Em sua quarta encarnação de James Bond, Daniel Craig acerta com mira digna da personagem e mistura o tom mais realista e explosivo dos novos, com o tom leve e simples dos antigos.
Force a memória e tente se lembrar quando foi que os filmes de 007 começaram a se levar mais a sério, tendo sempre uma relação política e com foco na responsabilidade de ter licença para matar. Ok, eu conto: Cassino Royale, de 2006. O primeiro filme Bond a sofrer influência da era moderna da espionagem, também era o primeiro filme de um reboto completo na franquia. Da forma de narrativa das histórias, ao foco nos acessórios reais e crises políticas amplificadas pelas explosões que o agente do MI6 causava.
Após o reboot, a história passou por baixos (Quantum of Solace, feito durante a greve dos roteiristas) e altos (Skyfall, primeiro 007 de um diretor Oscarizado, Sam Mendes) e segue agora a possível conclusão do arco, já que Craig ainda não se decidiu se volta ou abre caminho para um próximo bebedor de Martini batido, não mexido.
De qualquer forma, Spectre segue a risca da era Craig e começa seguindo e respeitando os eventos dos filmes anteriores. Tudo importa e tudo está conectado. Infelizmente, esse é o seu maior defeito também, já que existem coisas conectadas demais. Embora esse seja seu único defeito como filme do espião e atrapalhe menos o filme do que o momento esqueceram de mim de Skyfall.
Há várias adições a franquia, como importância para equipe – eles não são mais só pessoas sentadas em suas mesas – além da volta das cenas clássicas e de vilões e uma conclusão completamente semelhante aos batNolans, mas ainda há o problema de como as mulheres são tratadas pela franquia. Embora, para amenizar isso, Lea Seydoux seja crucial em alguns momentos.
Mendes, que dirigiu o que diz ser seu último Bond, não está tão inspirado quanto em Skyfall. O que, na prática, é bom: o filme não tem mais aqueles jogo de sombras caprichados (mas que cansam) de Skyfall e as cenas de ação são bem puxadas para os filmes clássicos do espião – destaque para a cena do trem e a do avião.
Dos filmes antigos, também surge o vilão principal e a organização que dá nome ao filme. Não darei spoilers aqui, mas o filme ganhou pontos comigo por ser uma origem (mesmo que exagerada) para esse. Alguns acham que o filme força ao querer fechar todo o arco iniciado em Cassino, mas a abertura do primeiro filme já continha o elemento do polvo (símbolo clássico da Spectre), que agora toma toda a abertura pra ele.
Vale lembrar que esse é o filme mais caro da história da franquia e que conseguiu se pagar logo no primeiro final de semana de abertura mundial – um feito tão importante para a Sony, que possui poucas marcas relevantes num mundo inundado de quadrinhos nas telonas.
O filme dividiu opinião mesmo aqui na casa das moedas: enquanto eu achei que a mistura ficou positiva, o Fabrício não curtiu muito do que viu – mas concorda comigo que Daniel Craig só não é melhor que Sean Connery).
Vale a nota: a trilha sonora do filme, como em todos os Bonds, é bem boa. Mas a música tema é um saco.