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O que define como somos e o que fazemos: sobre genética vs desenvolvimento

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Você é o resultado de tudo isso…

Milhões de anos de evolução; uma combinação genética; resultado da educação dos seus pais e convivência com amigos; um fruto do meio em que se vive; um ser com absoluto livre arbítrio ou uma alma reencarnada pagando pelos pecados anteriores?

A depender das suas crenças, umas ou outras dessas opções serão válidas, mas uma certeza, e sobre ela concordam ciência e religiões (ao menos a maior parte delas), é de que nada vem pré-definido (nem tampouco é tão aberto assim a qualquer possibilidade). Existem parâmetros para praticamente todas as suas características, sejam físicas ou comportamentais e, consequentemente, “seu destino”. São limites mínimos e máximos – cabe a você e sua vivência definir em que ponto ficará. Explico.

 

… e tem características fixas …

Alguns fatores são de fato bem determinados, geralmente biológicos: você tem sangue O+, lóbulo da orelha solto, nariz batatinha… São características eminentemente genéticas e nenhuma escola ou oração do mundo vai fazê-los mudar. Cirurgias talvez. Não vem ao caso.

A genética explica, por exemplo, porque bons nadadores costumeiramente são brancos: eles possuem ossos mais porosos, leves. Explica também porque negros são bons corredores, eles tem melhor musculatura nas pernas. A razão? Seleção natural. Ao longo da história, brancos de ossos leves e negros com pernas mais fortes sobreviveram em detrimentos dos brancos de ossos pesados e negros de pernas fracas.

 

… mas podem variar dentro de uma faixa …

Mas aí vem a mágica. Nem todo branco é um exímio nadador ou todo negro um exímio corredor. Numa escala fictícia de 0 a 10 para a “capacidade de nadar rapidamente”, digamos que os brancos nascem em média com uma faixa de 5 a 8, ou seja, sem treino serão apenas 5, com treino chegarão ao 8. Alguns nascerão 4 a 7, outros 7 a 10, e são estes, os “7 a 10”, que se praticarem muito chegarão a índices olímpicos.

Paralelamente temos os negros com, digamos, uma “capacidade de nadar rapidamente” de em geral 3 a 6. Alguns serão 1 a 4, outros 5 a 8, mas fica claro que encontrar um cujo limite máximo seja 10, e justamente este resolver treinar com afinco a natação, se torna muito mais raro (isso tudo vale para os negros corredores e a dificuldade de um branco chegar ao mesmo nível).

 

… tudo depende de como você vive …

A esmagadora maioria dos fatores segue esse modelo. Você não nasce predestinado a ter precisos 1,86m de altura, mas sua genética determina que você será alto, digamos entre 1,80 e 1,88m. A posição em que ficará nessa escala é definida pelos seus hábitos: alimentação, prática de esportes ou mesmo horas de sono diárias.

Duas pessoas com essa mesma genética* podem ter, uma 1,80m e outra 1,88m de altura, se seus hábitos forem diametralmente opostos (o primeiro comendo mal, dormindo mal e praticando esportes de hipertrofia, por exemplo, e o outro fazendo o inverso).

*Essas pessoas existem, são os gêmeos univitelinos, popularmente chamados “gêmeos idênticos”, e você deve estar pensando: eles costumam ser extremamente parecidos, sua teoria está furada! Sim, é verdade, são bem parecidos, mas seus hábitos também o são. Na fase de desenvolvimento (físico e psicológico) eles praticamente comem o mesmo, dormem as mesmas horas, praticam os mesmos esportes e lidam com as mesmas pessoas. Ainda assim, veja os gêmeos do programa Irmãos à Obra, um tem 1m93 e o outro 1,95m de altura. Imagine então se seus hábitos fossem muito diferentes e isso acontece, existem estudos com gêmeos idênticos que foram separados quando bebês e criados por famílias até de nacionalidades distintas. Eles se parecem muito, mas não tanto quanto os criados juntos.

 

… e não estamos falando apenas de fatores físicos …

Tudo o que foi dito vale igualmente para comportamentos, preferências e emoções – sim, essas também são características herdadas em boa parte. Você não é mau humorado por definição, mas seu humor, novamente numa escala fictícia de 0 (muito mau humorado) a 10 (muito bem humorado), deve estar entre 3 e 6. Como referência, pense naquelas pessoas irritantemente felizes, que acordam as 5h da manhã dando bom dia até para as plantas – elas devem ter uma faixa 6 a 9. Então, se você amigo mau humorado se esforçar, terá um razoável 6, o mesmo que o cara super feliz tem quando está num dia ruim. Para você exige treino, aprendizado, autoconhecimento. Praquele chefe de acampamento, é “natural”.

Quer outro exemplo? Você não seria mais inteligente simplesmente se fosse filho de japoneses. É possível que sua faixa de possível inteligência matemática estivesse acima da média global, mas você ainda precisaria desenvolvê-la com uma boa escola, família que incentive e amigos igualmente estudiosos, ou seria apenas mediano. Já aquele amigo mais lento da turma deve ter uma faixa de possível inteligência mais baixa, não é culpa dele, e precisará se esforçar muito para alcançar esse mesmo “mediano” que você teria estudando pouco. A genética pode ser malvada, mas não age sozinha.

 

… por isso, culpe seus genes, mas faça sua parte …

Você terá problemas cardíacos, será tímido e péssimo em matemática se seus pais também forem assim, certo? Errado. Você provavelmente terá tendência a desenvolver essas características, ou quaisquer outras herdadas, mas ei, eu disse tendências, chances, não certezas.

Problemas cardíacos? 6 a 9. Timidez? 5 a 8. Dificuldades com matemática? 5 a 9. Então faça exercícios, se alimente bem, entre num curso de oratória e inscreva-se no Kumon. Você provavelmente ainda terá mais riscos que alguém sem histórico de problemas cardíacos na família, será mais quieto do que o filho de dois artistas extremamente expansivos, e não se formará em engenharia no ITA, mas veja, estamos falando dos pontos negativos que você conseguiu melhorar, que tal lembrar que você também tem pontos em que sua faixa já é alta e que com algum trabalho alcançará níveis excelentes? E claro, com total dedicação (há até quem diga que existe um número para isso: 10.000 horas, mas claro que não existe regra geral)

 

… e veja que o destino é você quem faz.

Então, tirando as poucas coisas fixas, o resto é fruto do que você vive. Por vários anos cabe aos pais identificarem as fraquezas para trabalhar numa melhoria, e as facilidades para otimizar boas características, mas você deve fazer sua parte. Não aceite fatores tidos como ruins como se eles fossem definitivos, você sempre poderá trabalhá-los.

Físico, mental, emocional, sempre há espaço para crescimento. Seu destino é resultado de como você lida com essas características. Corra atrás dele.

Por Juan Lourenço

Tech, UI/UX, agile, code, game, movie, travel. Criador do ChatDireto.com e eco4planet.com