Categorias
Cotidiano Músicas

MIT FM, ou o triste fim da melhor rádio de Rock de SP

Em 5 de março acaba uma das principais rádios customizadas de São Paulo, a MIT FM (92,5). Criada há quatro anos através da parceria entre Grupo Bandeirantes, agência Africa e Mitsubishi Motors, a rádio dará seu adeus com a saída do principal patrocinador.

Mas por que isso é importante? Explico.

A História

Era uma vez um grande grupo de pessoas que gostava de rádio e de rock em São Paulo (capital).

Elas costumavam ouvir a 97.7FM, até que se tornou rádio de “putz-putz” (vulgo Dance, House e afins) e os fãs, tristes e abandonados, migraram para a “89FM – A Rádio Rock”. Ali permaneceram bastante tempo, até a maldição do pop (e do putz-putz!) chegar tornando a rádio ruim, muito ruim.

Mais uma vez sem um lar, muitos correram para a novata KissFM, rádio de classic rock, que estreou muito bem, mas cuja pegada “pesada” acaba sobrecarregando nosso já pesado dia a dia.

Foi então que, montada numa Pajero branca, veio a MIT FM e os fãs do rock bom, de qualidade (e menos pesado), finalmente encontraram uma morada. Aí chegou o lobo mau a crise mundial e matou a MIT FM e todos viveram tristes para sempre…

O fato é que a MIT FM não ganhou nossos corações só por uma set-list boa. Ela ganhou porque tem uma programação de muita qualidade, com ótimas entrevistas e o “Pajero Sport Specials” que traz versões alternativas – muitas delas surpreendentes – de músicas conhecidas.

Sua base é a aventura, os esportes e as coisas que gostamos. Coisa que… bom, donos de Mitsubishi normalmente gostam ou querem acreditar que gostam. E funcionou bastante bem, ou não teria sido a única “rádio customizada” a aparecer entre os veículos mais admirados do jornal Meio e Mensagem e tampouco alcançaria os 11 mil fãs em sua página no Facebook.

 

Rádios Customizadas

A Mitsubishi Motors não foi a única a entrar nessa. Várias outras rádios customizadas surgiram nos últimos anos, como a Sul-América trânsito (que faz muito sucesso em São Paulo, com dicas para o trânsito caótico) e a, hoje apenas online, Oi FM.

É difícil mensurar se a MIT FM gerou vendas de veículos e isso é uma das razões pela qual a fabricante pode ter desistido do projeto. O custo para manter a rádio e os baixos índices de audiência tem seu peso, mas esta não é uma FM comum que depende de publicidade, ela tem uma marca atrelada e é seu reflexo nela que conta.

Fixação de marca, geração de estilo, conceito e comunidade própria, como muito bem fazem Harley Davidson e Ferrari, por exemplo, são muito producentes pra qualquer produto de alta ligação pessoal, categoria na qual os carros provavelmente são o maior expoente.

Será que a rádio não fez donos de Mitsubishi se sentirem membros de uma comunidade própria (e cool), desistindo sequer de cogitar outra marca quando fossem atualizar sua garagem? Quantos não-donos-de-Mitsubishi deram à marca ao menos o privilégio da dúvida, com uma visita à concessionária e um test drive?

 

As Rádios Vão Morrer

Assim como o jornal, a TV, o e-mail… Sentenças de morte à meios e ferramentas de comunicação são dadas por futurólogos todos os dias, mas poucas se cumprem.

As rádios tem sua morte decretada desde o inicio da TV e voltaram a ser consideradas na UTI quando os primeiros aplicativos de downloads de música e streaming apareceram em meados de 1997. Apesar de não terem recebido alta, estão no quarto com ar condicionado ligado e direito à acompanhante.

Até hoje não inventaram algo tão dinâmico, democrático, barato, de longo alcance e que gaste tão pouca bateria como o rádio (e num eventual apocalipse zumbi será o provável único meio do que sobrar da humanidade para se comunicar). As “rádios” online podem funcionar em casa ou num país ideal, não no Brasil onde a cobertura e a velocidade da rede de dados móvel é uma grande piada. Enfim, sou fã de rádio e assumo.

Resta agora torcer para que outras boas rádios sobrevivam.
A todos os radialistas que participaram da MIT FM gostaria de dizer: “Missão Cumprida caras! Vocês vão fazer falta”

Por Thiago Barbosa

Desmontei um rádio a pilha com 4 anos. Dei curto-circuito na casa toda com 5. Leio 4Rodas desde os 7. Aluguei 12 filmes na 1ª visita à locadora. Quebrei o gamepad do Atari de tanto jogar. Chorei no fim de Lost. TI na veia profissional. Tricolor Paulista de coração.