Categorias
Filmes

La Piel que Habito

Almodóvar strikes again.

Petardo interessantíssimo sobre Robert Ledgard, um renomado cirurgião que, abalado por um acidente envolvendo sua esposa, resolve pesquisar uma pele artificial que poderia tê-la salvo.

No entanto, mais do que desenvolver uma pele artificial, é preciso testá-la. Em uma pessoa de verdade. Só que o conselho de medicina espanhol não aprova esta experiência.

É aí que Robert junta a fome com a vontade de comer. Ao mesmo tempo em que tenta resolver sérios problemas pessoais, encontra em um dos seus algozes uma excelente cobaia para suas experiências.

La Piel que Habito, antes de mais nada, é um filme sobre vingança e falta de escrúpulos. Vingança crua, fodida, de deixar o vilão de Oh-Daesu no chinelo. Vingança com toques sórdidos de crueldade mas, convenhamos, belo humor negro.

A história começa lenta, mostrando um Robert Ledgard frio, imerso no seu trabalho e afogado nos dramas pessoais. Também apresenta Vera, um personagem misterioso que, a princípio, não faz sentido. Mas é nos pequenos diálogos e nos detalhes que a introdução ao chocante final começa – bem diante do seu nariz. É claro que TUDO fica extremamente transparante – e fantasticamente Almodovariano – ao ver o filme pela segunda vez, mas basta prestar atenção nestes detalhes para que, por mais disconexa que pareça no início, a história se costure sozinha e automaticamente.

Cenas de impacto são inseridas abruptamente entre outras mais morosas, causando um contraste emocional bem foda (literalmente, às vezes). E quando você acha que entendeu os motivos torpes pelos quais Robert Ledgard toma suas ações… BAM – Almodóvar vem com outro soco.

Só me pareceu um tanto inverossímil o comportamento de Vicente depois do “trauma”. É difícil crer que alguém, depois de sofrer o que sofreu, se comportaria tão submissamente e servil, se sujeitando à humilhações extremas (mesmo considerando que ‘esperar’ é a melhor alternativa).

Fotografia belíssima, atuações fantásticas – especialmente o ar blasé e misterioso de Vera (Elena Anaya).  Enfim, um filme obrigatório de se ver.

Por Sérgio "Sobrenada"

Sr. Sobrenada, sobretudo, é publicitário, marqueteiro e tricolor, sim senhor.
Crítico, cético, ácido. Imoral, ilegal e engorda.