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Intelligence: a tecnologia numa série burra

Um chip super incrível que junta tudo de mais avançado que as agências norte-americanas têm de melhor. Um dos melhores agentes de ações especiais do mesmo país (Gabriel Vaughn, vivido pelo fraco, porém malhado, Josh Holloway). O chip está no cérebro desse agente e, com isso, ele consegue acessar redes, computadores e ainda simular ambientes registrados por câmeras. Essa é a premissa básica de Intelligence (CBS, 2014) que chegou ao seu segundo episódio nessa semana e, bem, mostra que a inteligência começa e acaba no título da série.

Achar que você pode escrever sobre algo que não entende é comum. Embora, em seriados, isso costume aparecer em finais de arcos narrativos e por isso, geralmente, aparecem em finais de temporadas ou de séries. Talvez o maior destes seja o caso de Lost (série onde Josh Holloway também atuava, mas não era dos maiores problemas também). Lost, que ampliou seriados para fora da telinha no começo do novo milênio, que começou a tomar uma forma tão científica em sua quinta temporada, na seguinte, terminou daquele jeito sem pé nem cabeça. Você pode ter gostado daquilo, mas o próprio roteirista, Damon Lindelof, entre uma cagada e outra, escreveu uma carta de desculpas por todos os erros que aconteceram no fim da série.

A série sofreu problemas, mas no seu penúltimo ano teve uma injeção de ânimo com as teorias científicas que iriam aparecendo. Infelizmente, sem conseguir boas explicações para todas as respostas, o sexto ano foi uma grande aposta no mágico, no fácil. Já Intelligence é mais econômica: no primeiro episódio levanta algumas questões para o personagem principal que logo no segundo, foram fechadas. “Mas eles não enrolaram, então pare de reclamar”. Não é assim. Enrolar é ruim, sim. Só que dar tempo para que a trama e personagens se desenvolvam e você consiga se relacionar com isso é essencial para que o twist de um plot faça você ter algum sentimento pelo desfecho da história. Até por isso as decisões desse tipo ficam, geralmente, em fins de temporada.

Em dois episódios também é notável a falta de bom senso dos roteiristas com a tal tecnologia que Gabriel leva na cabeça. Se apenas por encontrar uma rede Wi-Fi de uma base inimiga secreta, ele já consegue invadi-la a ponto de comandar até uma maçaneta, é notável como ninguém tem a ideia de usar o mesmo chip para enviar um e-mail com a identidade de um traidor, ou disparar sinais GPS para localização do covil secreto onde ele é aprisionado, ainda no piloto.

Piora: todos nós usamos a internet. Nós sabemos que por melhor que sua conexão seja, quando você vai carregar um vídeo em 1080p existe um lag, mesmo que mínimo. Imagine então se você precisasse localizar uma planta de um prédio, um carro e invadir algum sistema terrorista? Você pode ter o melhor processador do mundo, pode usar uma conexão militar incrível, mas eu não acredito que o sistema da prefeitura tenha uma conexão do Google Labs, ou que o táxi tenha um 4G tão incrível assim. As respostas não seriam instantâneas… Mas Gabriel as consegue mais rápido do que um bom computador abre o Word.

Calma, tem mais: embora a dupla principal mostre até uma boa química (exceto quando Gabriel fica sentimental), o resto dos atores é de horrível pra pior. A chefe de Gabriel e o cientista criador do chip, vividos por Marg Helgenberger e John Billingsley, respectivamente, são personagens caricatos e vazios do tipo que se via muito em séries de ação dos anos 80/90.

E aí que a série acaba: como uma série oitentista fora de época. Tá tudo lá: trama fraca; agência fictícia;  a falta de bom senso tecnológico; coadjuvantes vazios. Talvez a única diferença seja que o agente principal é acompanhado de uma agente. Formando uma bela dupla – que, tal como nos anos 80, tem uma equipe sem miscigenação.

Você quer assistir a uma série sobre tecnologia que é realmente inteligente e relativamente nova? Ora, a própria  CBS tem Person of Interest. Ou na área de Sci-Fi, o canal que tinha esse nome, atual SyFy, estreou Helix (que vai ganhar um post por aqui) e que parece promissora. Mas se o que você quer mesmo é ver um seriado sobre um cara com um super-computador no cérebro, vá ver Chuck. A série já acabou e embora esteja longe de ser um primor, é uma boa série de ação e comédia. Cheia de homenagens, referências e bons atores.

A audiência do piloto de Intelligence foi a melhor da CBS em anos, mas o público parece não ter gostado do que viu. O segundo já caiu bastante e, se continuar assim, a inteligência da TV americana não durará nem uma temporada completa. Tudo por conta do público, que se cansou de séries burras.

Por J. P. Neto

Nasceu quando Let It Be completava a maioridade e desde então vive de pizza, música, filmes, joguinhos, séries e quadrinhos. Não vê a hora da criação da vigésima quinta hora.